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Bolivia: Operação "Meia Lua" prepara manobra golpista, denuncia ex-deputado
Por Brasil de Fato - Wednesday, Oct. 01, 2008 at 12:38 AM
agencia@brasildefato.com.br

Segundo Walter Vásquez Michel, direita boliviana seria auxiliada por oficiais da reserva das Forças Armadas na tentativa de derrubar o governo de Evo Morales Segundo Walter Vásquez Michel, direita boliviana seria auxiliada por oficiais da reserva das Forças Armadas na tentativa de derrubar o governo de Evo Morales

Miguel Meléndres
La Época

O ex-deputado pelo Partido Socialista 1 (PS-1), Walter Vásquez Michel, assegura que ainda está em marcha a Operação "Meia Lua", semeada pela embaixada dos Estados Unidos e encabeçada por croatas e cívicos dos departamentos do oriente do país, com o intuito de derrubar o governo do presidente Evo Morales, destruir todo vestígio de progresso social, político e econômico, e de agarrar-se ao poder para proteger os latifúndios.

Enquanto isso se articula, a tática permanente dos governadores é o adiamento de soluções, para acumular forças com o objetivo de desencadear novamente um golpe de estado "cívico-governos departamentais"; dentro desse acúmulo, eles estariam se reunindo com pequenos grupos das Forças Armadas que disponibilizariam dados das dispensas e de paramilitares.

A denúncia do ex-parlamentar socialista Walter Vásquez Michel é embasada por "fontes fidedignas das Forças Armadas", as quais, como nos golpes dos generais Alberto Natusch Busch (1979) e Luis García Meza (1980), o advertiram, junto a seu companheiro de sigla, Marcelo Quiroga Santa Cruz, sobre a manobra golpista que em poucos dias se fez realidade, além da existência dos decretos reservados de Hugo Banzer Suárez (1971-1978), que trouxe torturas e dor a muita gente na Bolívia.

"Como homem de esquerda, que acompanhou em todo momento a Marcelo Quiroga Santa Cruz, denuncio que não foi desativada a preparação do golpe civil contra o Governo de Evo Morales; a preparação se arma com a participação de oficiais licenciados das Forças Armadas", sustentou o ex-deputado, que advertiu que cerca de 500 armas de grosso calibre estão em posse dos sediciosos, prontas para ser usadas.

Vásquez revelou que este "golpe em preparação" é levado adiante por grupos de croatas que atuam em Santa Cruz com a mesma estratégia como o fizeram já nos anos 1950, apoiados por membros da União Juvenil Cruceñista (UCJ). De acordo com a narração de Vásquez, essa mesma gente, que em 14 de maio de 1958 preparou a separação de Santa Cruz, é motivada pela liderança de Branco Marinkovic e da UJC, como os Valverde, os Costas, entre outros.

Oligarquia latifundiária

"O que sucede nestes momentos não é improvisação. Existe uma oligarquia latifundiária e feudalista que não quer que seus interesses sejam questionados. Essa oligarquia feudal se maneja com muito dinheiro dos Estados Unidos; e este processo de mudança que ocorre na Bolívia está melando seus interesses em profundidade. O problema da terra sempre tem ensangüentado a história de todo o mundo. Por isso é que esses croatas não se resignaram", assegurou o ex-deputado.

Por outra parte, a mesma fonte assegura que o interesse dos Estados Unidos em uma conspiração para desestabilizar a democracia tem o objetivo de retomar o controle na América do Sul, que "está indo pelas mãos" devido ao processo revolucionário em vários países. "Aparecem (os golpistas) quando se dá uma mudança revolucionária, que está marcada no contexto internacional porque há ânsias de libertação e um processo em marcha", afirmou.

Pese a possível participação de militares da reserva nessa espreita ao Presidente da República, Walter Vásquez não crê na divisão no exército; pelo contrário, a maioria de seus membros está identificada com o processo, com o povo; e aqueles que se somam aos afãs golpistas são somente "enclaves fascistas que continuam no interior da instituição".

Com a advertência de um possível golpe, Walter Vásquez chamou toda a população a submeter-se à defesa da atual democracia que nunca se viveu em anos anteriores e, especialmente, que se atue com alto sentido de responsabilidade cidadã; ele advogou em favor da unidade de todos os bolivianos para que fracassem os planos contra o governo.

A denúncia do golpe passo a passo

Os planos de golpe de Estado continuam. A direita golpista está em trégua, reagrupando suas forças para depois da Expoferia de Santa Cruz. A derrocada do presidente Evo Morales é para impedir que se produza no país o deslocamento de uma classe social por outra e para que os ricos não percam seus privilégios.

O golpe de Estado foi tramado na embaixada dos Estados Unidos e se coordenou com a oligarquia latifundiária, proprietária de terras e agroexportadora de Santa Cruz e com o apoio das petroleiras que têm sido nacionalizadas pelo governo de Evo Morales. O golpe de Estado foi batizado com o nome de "Meia Lua".

Ingressou em uma de suas fases decisivas em 21 de agosto com a reunião secreta do governador Rubén Costas e do presidente do Comitê Cívico, Branco Marinkovic, com quatro parlamentares dos Estados Unidos. Em 25 de agosto, ocorreu uma reunião desses mesmos dirigentes de Santa Cruz com o embaixador dos Estados Unidos, Philip Golberg.

Nos primeiros dias de setembro, Philip Golberg liderou uma reunião conspirativa com os governadores da "meia lua" e deu continuidade a uma operação da CIA.

As fases anteriores do golpe de Estado foram executadas pela União Juvenil Cruceñista (UJC), que atuou sob a direção de paramilitares que tiveram a ver com o golpe de Bánzer em 1971 e de García Meza em 1980.

Em cumprimento a essa agenda golpista, no dia 2 de setembro, dois funcionários estadunidenses, por encargo de Golberg, sustentaram outro encontro conspirativo com quatro generais de reserva, na casa do general Elías Eduardo, encarregado da segurança do governo departamental de Santa Cruz e homem de confiança do governador Rubén Costas.

Entre os militares, estavam presentes o general de Serviço Passivo (SP) Ontiveros, o general Marcelo Antezana e o general Herlan Viestrox.

No dia 5 de setembro, o encarregado de assuntos militares da embaixada dos Estados Unidos conversou em Santa Cruz com o comandante da Oitava Divisão, o general Marcos Bracamonte e com o tenente coronel Dieter Claure, entre outros, para planificar uma entrega das unidades militares a grupos paramilitares. Com isso, se esperava adicionar mais tensão à situação e dar a sensação de que o governo havia perdido o controle das Forças Armadas.

Em todas essas reuniões, foi acordada a execução das atividades golpistas. Fazia parte das ações os atentados terroristas com a assessoria direta da Agência Central de Inteligência (tradução livre de Central Intelligency Agency - CIA), o assalto a instituições de Estado localizadas na "meia lua" e o trancamento das estradas da região da meia lua e das fronteiras internacionais, para neutralizar qualquer tipo de apoio exterior. Paralisar o transporte de produtos básicos alimentícios em todo o país, tomar de assalto quartéis policiais e gerar violência em mobilizações populares com vistas a produzir feridos e mortos também seriam atividades desestabilizadoras que terminariam por tornar real uma situação de golpe de Estado.

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A estratégia da Espanha em relação à Bolívia
Por Brasil de Fato - Wednesday, Oct. 01, 2008 at 12:40 AM
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Na Europa, apresenta-se uma realidade onde aparecem bandos enfrentados que disputam a imposição de suas alternativas em meio a uma falta de consenso.
Na Europa, apresenta-se uma realidade onde aparecem bandos enfrentados que disputam a imposição de suas alternativas em meio a uma falta de consenso.


por Marcos Roitman Rosenmann

É habitual encontrar, na Espanha, um rechaço generalizado à atuação dos governos de esquerda, melhor dito, democráticos, na América Latina. Estes enfrentam uma imprensa ruim. O conceito cai como uma luva. Trata-se de uma linguagem da desestabilização criado por ideólogos, jornalistas e comunicólogos.

No caso da Bolívia, busca se justificar um golpe de Estado cívico-governo departamental, como o vice-presidente Álvaro García Linera denomina a conspiração das políticas autonomistas encabeçada pelos governadores dos departamentos da meia-lua: Santa Cruz, Beni, Tarija, Chuquisaca e Pando. Todos amotinados, obstruindo o desenvolvimento do processo democrático constituinte.

Na Europa, especialmente na Espanha subdesenvolvida social e culturalmente, ou seja, a atual, apresenta-se uma realidade onde aparecem bandos enfrentados que disputam a imposição de suas alternativas em meio a uma falta de consenso. Sobre esse relato, avaliza-se a atuação de atores pacificadores exteriores e se oferecem seus favores.

A Espanha joga dentro desse itinerário. Seu papel se incorpora à estratégia dos EUA para a região, ou seja, procura socavar o processo político inaugurado com o triunfo do MAS e de seu presidente Evo Morales, enquanto participem de uma projeto anti-imperialista e anti-capitalista.

A esse contexto, soma-se a condenação pela expulsão do embaixador dos EUA na Bolívia, Philip Goldberg, considerada uma falta de juízo e um chute de “bolas para fora” ao se culpar os ianques de todos os males que aflige o país. Seria uma passo em falso para não responder às demandas de autonomia das províncias da meia lua e uma maneira de solapar seus próprios erros, manifestados em um empate técnico entre partidários de uns e outros no referendo.

Nesse relato, não há nenhuma alusão ao papel de Goldberg na divisão de Kosovo em sua época de embaixador por lá. Encobrem e silenciam sobre suas reuniões com os governadores separatistas aos quais presta ajuda logística, econômica e política para urdirem sua trama. Muitas armas se compram com o dinheiro que sai da embaixada estadunidense, que também financia os paramilitares que geraram a matança em Pando, em 11 de setembro.

Na Espanha, não há maneira de se inteirar sobre esses fatos. Todos os meios de comunicação, sem exceção, distorcem a realidade e assumem a linguagem da desestabilização, apoiando o discurso do governador de Pando, Leopoldo Fernández, ao solicitar observadores internacionais e assinalar que as turbas armadas eram simpatizantes do MAS.

Mente-se na informação. Os meios de comprometem com a oligarquia e as transnacionais feridas pelas políticas de nacionalizações. Nessa direção, o ministro de Relações Exteriores, Miguel Angel Moratinos, com a mesma celeridade que Rodríguez Zapatero apoiou a eleição de Felipe Calderón em meio da fraude eleitoral no México, expressa o desejo de mediar o conflito e a crise entre as partes.

Ao se referir à Bolívia, não existem duas partes. Há um governo constitucional e golpistas. Um levantamento contra o estado de direito por aqueles que se apropriam de instituições para assassinar camponeses, armando grupos paramilitares e, com isso, gerar uma rede de apoio internacional para suas reivindicações separatistas.

Desde seus lugares privilegiados, governadores, prefeitos e deputados atacam a nova Constituição e de declaram insubmissos perante a lei. Não se trata de uma crise de institucionalidade nem de uma perda de legitimidade. Falamos de um complô para derrubar um governo e de uma conspiração armada com o resultado de mortes e assassinatos à população civil.

Obrigar ao cumprimento da lei e declarar o Estado de sítio não é um problema de abuso de poder: é defesa democrática em momentos de levantamento e motim. Questão de ordem pública. No entanto, o governo do PSOE considera que a Bolívia está imersa em uma etapa de pré-guerra civil, sendo necessária uma mediação internacional, de caráter neutro.

De forma implícita, outorga legitimidade aos conspiradores. Seu discurso oficial é bem conhecido. Justifica as reivindicações autonomistas da oposição ao governo de Evo Morales ao qualificá-las de lutas democráticas com apoio cidadão, proveniente das eleições. Visão que a direita compartilha.

Esse maniqueísmo se expande graças aos meios de comunicação, cujos jornalistas se empapam com uma fraseologia e tópicos sobre a Bolívia onde o mais parecido à realidade é uma caricatura. No entanto, cumprem seu objetivo de desvirtuar o processo político até reverter uma imagem favorável e isolar Evo.

O terrorismo informativo assenta-se na idéia de ingovernabilidade, na perseguição de seus intelectuais e de suas classes médias, angustiadas e com medo de uma vingança dos “índios”. As políticas “indigenistas”, “populistas” e “nacionalistas” são as culpadas dessa degeneração. Nelas, encontra-se a origem do problema.

Não precisamos ir muito longe. A saída é simples: Evo Morales deve renunciar e deixar em paz os bolivianos. Sua presidência gera ódio, crispação, dissenso. Deve-se retomar o diálogo, voltar aos tempos onde se mandava com classe e com responsabilidade. As nacionalizações, a reforma agrária, as mudanças na administração pública, o controle sobre as riquezas básicas, as políticas sanitárias, a autonomia dos povos indígenas perturbam a razão.

Falam de um poder caudilhista alheio à modernização. Evo Morales é a cara do ressentimento dos “índios”. Por isso, os jornalistas e costumeiros tertulianistas falam de um racismo indígena. Querem uma meia volta volver, não desejam educação, e sim aprender inglês, castelhano e continuar com os bons costumes.

Assim, desqualificam o governo. É o momento de fazer circular os velhos rumores: Evo Morales quer fazer a Bolívia voltar ao passado, destruir o mundo moderno. Opõe-se ao bom entendimento. Além disso, pertence a uma raça doente, como Alcides Arguedas a descreveu.

Desconfiados, vagos, dados à bebida, violentos e encrenqueiros. Carecem do espírito do capitalismo, e por isso a Bolívia não avança. Agora, se adiciona a origem sindical cocalera de seu presidente, um poder obscuro. Assim se completa o círculo contra o governo democrático do MAS.

Por sorte, a reunião dos presidentes da América do Sul em Santiago do Chile, dando todo seu apoio ao presidente Evo Morales e a seu governo, chamando de golpistas os governadores e mostrando seu rechaço à divisão da Bolívia, pela primeira vez na história do continente, joga a perder essa política imperialista desenhada pelo Pentágono e a Casa Branca. Já era hora. (do La Jornada)


Marcos Roitman Rosenmann é sociólogo chileno radicado em Madri, Espanha, onde trabalha como Professor Titular de estrutura social da América Latina na Universidade Complutense de Madri.

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