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A MORTE SÚBITA DE NÉSTOR KIRCHNER: NÃO É UM DOS NOSSOS MORTOS!
Por Liga Bolchevique Internacionalista - Thursday, Oct. 28, 2010 at 3:19 PM
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O objetivo fundamental do governo Néstor Kirchner foi justamente alterar o quadro de instabilidade política, econômica e social que gerava uma profunda polarização no país, radicalizando a luta de classes. Para isso revitalizou o regime de dominação burguesa e conseguiu alcançar paulatinamente um relativo grau de recuperação econômica

A MORTE SÚBITA DE NÉSTOR KIRCHNER

NÃO É UM DOS NOSSOS MORTOS!

O ex-presidente Néstor Kirchner teve morte inesperada no último 27 de outubro, produto de uma parada cardiorrespiratória. Responsável por integrar a Argentina ao cinturão de governos da centro-esquerda burguesa quando assumiu a presidência em 2003, após o ápice da crise política e social que abalou o país em 2001. Kirchner conseguiu estabilizar o regime burguês através de um pacto social que impôs uma política de colaboração de classes entre a burocracia sindical, as grandes empresas industriais e o governo. Ganhando a ira do agronegócio no último período, mesmo assim era favorito para as eleições presidenciais de 2011, seu falecimento aprofunda as disputas no seio da classe dominante argentina, já que agora os peronistas devem lutar pela reeleição de sua esposa, Cristina, apresentando-a como uma "nova Evita" na Casa Rosada.

UMA VIDA A SERVIÇO DO CAPITAL TRAVESTIDO DE "LÍDER PROGRESSISTA"

Político habilidoso, Kirchner tinha 60 anos. Nasceu em 25 de fevereiro de 1950 em Río Gallegos, na província de Santa Cruz, na região da Patagônia. Militou na ala juvenil do peronismo dos anos 1970. Advogado, foi governador da província de Santa Cruz (1991-2003) pelo Partido Justicialista.

Assumiu a presidência da Argentina em 25 de março de 2003, no lastro da ascensão dos governos da centro-esquerda burguesa no continente como Chávez e Lula. Sua eleição ocorreu no curso da grave crise econômica e social pela qual o país atravessou após a saída do entreguista Carlos Menem, com a queda do governo da opositora UCR, cujo ápice foi em 2001.

O objetivo fundamental do governo Néstor Kirchner foi justamente alterar esse quadro de instabilidade política, econômica e social que gerava uma profunda polarização no país, radicalizando a luta de classes. Para isso revitalizou o regime de dominação burguesa e conseguiu, fundamentalmente via estabelecimento de um pacto social com a burocracia sindical e acordos com setores chaves da burguesia, alcançar paulatinamente um relativo grau de recuperação econômica. Usou os fundos estatais para subsidiar os negócios das grandes empresas. Com o incremento dos impostos ao setor agrário e a superexploração dos trabalhadores, cujas direções estavam em sua maioria cooptadas, assentou as bases para a mínima estabilidade que os capitalistas necessitam para seguir lucrando. Apesar da fraseologia pseudonacionalista, continuou pagando a fraudulenta dívida externa.

Como se vê, o ex-presidente teve um papel fundamental para defender os interesses e negócios dos monopólios através de sua atuação no comando do Estado. Atualmente deputado nacional, estava à frente da UNASUL e presidia o PJ, o principal partido peronista. Mesmo sem estar formalmente ocupando a presidência da República tinha um papel fundamental para garantir a governabilidade de Cristina e sua iniciativa política, cuja gestão foi acossada por inúmeras crises que dividiram a própria classe dominante.

Era obviamente o candidato preferencial para dar continuidade ao chamado "projeto K", um ciclo de governos capitalistas iniciado pelo próprio Kirchner em 2003, sucedido por sua esposa, que se baseava em uma política de garantir a estabilidade burguesa através da cooptação dos movimentos sociais, como as famosas "Mães da Praça de Maio" e apoiando-se fundamentalmente na velha burocracia sindical da CGT. Inclusive distintas pesquisas o indicavam como vitorioso do pleito já no primeiro turno das eleições presidenciais de 2011, mas com sua morte a opção dos principais expoentes do peronismo tende a ser a reeleição de Cristina. As direções sindicais governistas já nos funerais de Kirchner usam o espantalho do perigo do "retorno da direita" para dar "força a Cristina!", apresentando-a como uma "nova Evita".

Neste momento um amplo setor da imprensa, a burocracia sindical governista e os políticos burgueses peronistas usam a morte de Kirchner para embotar ainda mais a consciência das massas e patrocinar um falso sentimento de unidade nacional em torno do governo de sua esposa para melhor manter a ordem capitalista. Os trabalhadores e sua vanguarda classista devem remar contra a maré da opinião pública fabricada pelos patrões e manterem-se no campo da oposição revolucionária ao governo burguês de turno, tendo uma firme posição de independência política e de classe frente à burguesia, os monopólios e o imperialismo, não cedendo às pressões em nome de uma política de colaboração de classes a partir de migalhas preventivas oferecidas pela patronal e seu governo K.

A ESQUERDA REVISIONISTA E A MORTE DE KIRCHNER

Além da máfia da CGT, da intelectualidade governista e da burguesia que apoiava o casal K, inusitadamente quem também derramou lágrimas pela morte de Kirchner foram... os revisionistas do trotskismo. Enquanto PTS e Izquierda Socialista lançaram comunicados escandalosos "em respeito à dor" pela morte do atual chefe peronista, o Partido Obrero foi ainda mais longe. Ao contrário desses filisteus dizemos: Kirchner não é um dos nossos mortos!

Somando-se à grande família da colaboração de classes que sente a ausência de Néstor Kirchner, a Izquierda Socialita-IS (organização irmã da CST-PSOL no Brasil) declarou "Acaba de falecer Néstor Kirchner. Respeitamos a dor de seus familiares e amigos. E compreendemos o sentimento daqueles trabalhadores que nestes anos depositaram expectativas em seu governo". Quase com as mesmas palavras outro membro da família, o PTS, afirmou que "respeita a dor que sentem amplos setores de trabalhadores e do povo, que identificam o ex-presidente com determinadas conquistas". Além de ressaltar a "comoção" pela perda do ex-presidente, PO creditou pateticamente como motivo de sua morte o "abalo" sofrido por Kirchner pelo assassinato do jovem militante trotskista Marino Ferreyra pelas mãos da máfia da CGT que apóia o governo K! O PO não se conteve e em sua “comoção” afirmando de forma delirante: "A morte súbita do ex-presidente Néstor Kirchner comove por sua condição de chefe político inquestionável do governo atual. Tem lugar na mesma semana que se produz o crime político contra Mariano Ferreyra e quando a investigação deste crime ocupava o centro do cenário político. É impossível não pensar que a crise desatada por este crime, que calou até o osso do regime político, não tenha cobrado um preço elevado sobre a saúde deteriorada do ex-mandatário".

Os marxistas revolucionários não têm nenhum sentimento de respeito, dor e solidariedade por seu inimigo de classe travestido como "progressista" que "foi". Longe de patrocinar ilusões em Néstor Kirchner, até mesmo na hora de sua morte, como fazem esses revisionistas, os genuínos trotskistas dizem em alto e bom som que devemos combater seu projeto, ainda mais no momento em que a burguesia e a máfia da CGT peronista assassina de nossos companheiros de luta, dão uma aura de herói nacional ao ex-presidente, fiel representante do grande capital.

LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA

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