Julio López
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Teses trotskistas acerca da guerra imperialista contra a Libia
Por Liga Bolchevique Internacionalista - Thursday, May. 19, 2011 at 5:49 PM
lbiqi@hotmail.com

Para a classe operária, muito mais do que para o próprio regime burguês de Kadaffi, a vitória militar e política da Líbia por sobre os exércitos imperiais é uma questão de manter suas conquistas sociais e ampliá-las no curso do processo de revolução permanente.

TESES TROTSKISTAS ACERCA DA GUERRA IMPERIALISTA CONTRA A LÍBIA

I – O contexto geo-político do conflito

A guerra imperialista travada contra a Líbia inicia-se no contexto político da chamada “revolução árabe” para os mais histéricos revisionistas ou mesmo denominada “primavera árabe” para alguns encabulados, mas não menos revisionistas. Este processo que permeia o mundo árabe e o norte da África (islâmico) sem sombra de dúvidas tem alcance mundial e foi o ponto de partida para a decisão do imperialismo ianque atacar todos os regimes adversários da região, no caso concreto estamos nos referindo a Líbia, Síria e Irã. Muito tem se falado que o governo de Kadaffi já não era mais adversário da Casa Branca há alguns anos. É a mais pura verdade a constatação de que Kadaffi não apoiava mais nenhuma ação anti-imperialista no planeta, também é correto assinalar a celebração de vários acordos econômicos com potências europeias, especificamente no campo da exploração de petróleo e gás. Não faltavam fotos de Kadaffi apertando a mão das lideranças imperialistas, inclusive a de Barak Obama. Como trotskistas sabemos muito bem que o imperialismo nunca bombardeou seus aliados, ainda mais com a maior frota aérea militar já reunida em toda a história das guerras. Então porque atacar um “aliado”, em clara rota de aproximação com Washington? A reposta a esta questão novamente nos reporta ao contexto político aberto com a chamada “revolução árabe”. O processo aberto na Tunísia e posteriormente no Egito nada tem a ver com uma “revolução”, tampouco socialista ou mesmo democrática, seja em que estado se encontre: “embrionário”, “fevereiro” ou mesmo “terminal”. A decantada “primavera árabe” é na verdade uma operação política de transição democrática de velhos regimes autocráticos, já incapazes de sustentar as instituições do Estado burguês. No curso deste processo, detonado espontaneamente pelas massas castigadas com a crise econômica, o governo Obama decide avalizar a substituição dos senis aliados corruptos por novas lideranças plenamente alinhadas com os EUA e Israel, sob a bandeira da “democracia ocidental”. A manobra política operada por Obama e seu staff foi triunfante na Tunísia e também no Egito, era dado o momento de lançá-la contra regimes que não se alinhavam plenamente com o imperialismo, apesar das enormes concessões do último período.


II – O caráter das conquistas históricas do regime líbio

A Líbia não era a Tunísia e muito menos o Egito, sua realidade atual está embasada em uma drástica mudança da correlação social ocorrida com a ascensão ao poder dos jovens coronéis nacionalistas comandados por Al Magrabi em setembro de 69. Logo após a uma guinada ainda mais à esquerda dos militares que simpatizavam com a URSS, Kadaffi assume o controle do novo regime pan arabista. Em 1975 com o esgotamento do nacionalismo árabe que capitulou vergonhosamente no Egito e na Jordânia ao pactuar diretamente com o sionismo, Kadaffi proclama o “Livro Verde”, uma espécie de constituição nacionalista radical que introduzia no país conquistas importantes para as massas líbias. Este regime que Kadaffi tentava publicitar como “socialismo árabe” era produto de uma intensa pressão dos setores mais organizados do proletariado que lutavam para reproduzir um “modelo soviético” nas areias do deserto. Acontece que a socialização dos meios de produção, ou seja, o regime social da União Soviética não poderia ser simplesmente copiado por uma liderança burguesa por mais nacionalista ou radical que seja. O socialismo é produto de uma autêntica revolução social ou em casos excepcionais da ruptura violenta com o conjunto da burguesia e não somente de setores ou ramos da produção capitalista. Neste sentido, o “socialismo” de Kadaffi embora tenha colocado na pauta do povo líbio questões muito progressivas, nunca ultrapassou os limites de um estado burguês. Com o fim da guerra fria, regimes como o de Kadaffi perdem o alinhamento militar com o Pacto de Varsóvia e buscam repactuar alianças com setores imperialistas considerados menos agressivos aos seus interesses. A questão fulcral que determinou a impossibilidade de uma “transição democrática” made in EUA na Líbia são exatamente a permanência das conquistas históricas das massas, que não se animaram a lançarem-se em uma aventura imperialista contra Kadaffi, ao contrário, deflagrada a oposição reacionária de caráter monárquico, apoiada pelas metrópoles ocidentais, souberam colocar-se no campo da defesa militar de seu regime nacionalista anacrônico contra o canto de sereia democrático.


III – Uma oposição reacionária desde a gênese

Encerrado o capítulo da saída de Mubarak no Egito, como um rastilho de pólvora, as “oposições” saem em cena em toda a região arábica. Em países onde sócios menores do capital financeiro ianque demonstraram incapacidade social em continuar do poder, a Casa Branca orientou a transição “lenta, gradual e segura”, já nos que estavam ou ainda estão na lista negra do “terrorismo internacional” o “conselho” é armar a oposição e dotá-la de todo apoio político na mídia mundial. Na Líbia logo os apoiadores do antigo monarca Idris, apeado do governo pelos coronéis em 69, foram a ponta de lança inicial para fazer eclodir o suposto movimento de massas contra o “tirano sanguinário” Muammar Kadaffi. Os monarquistas não tiveram muito trabalho para agrupar várias oligarquias tribais, muitas das quais tinham estabelecido laços financeiros e comerciais com empresas imperialistas sediadas na cidade de Benghazi. Não demorou muito, os “rebelados” contra o caudilho nacionalista já dispunham de sofisticadas armas pesadas que passaram a apontar contra o próprio povo líbio que insistia em permanecer ao lado da “ditadura sanguinária” de Kadaffi. Os primeiros confrontos resultaram em centenas de mortes de civis logo atribuídas pela mídia imperialista ao exército regular líbio, espalham-se os boatos da fuga de Kadaffi e da contratação de mercenários africanos pagos para defender o regime de Trípoli. Surgem as primeiras dissidências e fissuras no campo do regime, “nutrindo” a reacionária oposição agora composta por generais que se venderam a OTAN, jovens yuppies funcionários das petroleiras europeias e os pioneiros monarquistas com sua bandeira do monarca Idris. Forma-se um governo provisório em Benghazi reconhecido pelo covil de bandidos conhecido como ONU, que já conta com um Banco Central e até uma empresa de exportação de petróleo, isto tudo em meio a uma guerra civil. Como sabemos muito bem o imperialismo ianque não costuma fornecer armas a movimentos sociais e, muito menos, colocar suas tropas a serviço de nenhum agrupamento de rebeldes que lutam contra uma ditadura. A história da luta de classes nos ensinou que as armas do imperialismo servem a movimentos contrarrevolucionários, como no Vietnam, na Nicarágua, em Cuba ou Angola só para citarmos alguns exemplos mais cristalinos.


IV – Mais uma vez a formação da santa aliança contrarrevolucionária

Como ocorreu nos ataques do “onze de setembro”, onde um amplo coro mundial em uníssono condenou a resposta militar não convencional ao coração do “monstro imperialista”, atribuído a organizações islâmicas anteriormente atacadas pelas tropas do Pentágono, quando as “mobilizações” reacionárias cortaram a Líbia logo se formou novamente a santa aliança contrarrevolucionária em apoio aos “rebeldes” anti-Kadaffi, coordenados pela CIA, além de organismo imperialistas de “direitos humanos” como a Human Rights Watch. Este bloco galvanizou desde os porta vozes diretos do imperialismo como a Fox News e CNN, passando por toda a social-democracia e chegando na esquerda revisionista, na sua “totalidade consensuada”. No princípio das manifestações contra o regime líbio até mesmo forças stalinistas, como castristas e congêneres, condenaram a suposta repressão desencadeada por Kadaffi contra os “rebeldes”. Chávez saiu em defesa de uma solução negociada, propondo-se a mediar um acordo entre governo e oposição. Os revisionistas histéricos saíram a clamar “Abaixo Kadaffi”, afirmando que a oposição monarquista deveria ser considerada como um movimento genuinamente revolucionário. Chegaram mesmo a sustentar, como a LIT e o PTS argentino, que não estaria no horizonte do imperialismo uma intervenção da OTAN. Quando começou o covarde bombardeio “humanitário” utilizando-se de mísseis letais carregados com urânio empobrecido e o Conselho Nacional de Transição (CNT) saiu a comemorar a morte de civis líbios, estes canalhas revisionistas justificaram sua escandalosa posição de apoio aos “rebeldes” com a abstrata bandeira de “Fora a OTAN da Líbia”. Os stalinistas de uma forma geral mudaram de postura passando a defender acriticamente o regime líbio diante da agressão imperialista. Desgraçadamente, somente os verdadeiros trotskistas da LBI foram os únicos, como aconteceu no 11 de Setembro, a postarem-se no campo militar do regime de Kadaffi, sem alimentar nenhuma ilusão política no caráter nacionalista burguês de sua liderança.


V – Sob pressão das massas e da guerra o nacionalismo burguês pode ir além de seus objetivos

Kadaffi não pensava em “duelar” com o imperialismo na etapa atual, já tinha colocado seu “pijama” militar, confiando inclusive depositar as reservas cambiais de seu país no Banco Internacional de Compensações; resultado: perdeu trezentos bilhões de dólares, dinheiro roubado pelas hienas imperialistas do povo líbio. Mas, os acontecimentos assumiram uma dinâmica veloz e a sede política de Obama de impor uma derrota humilhante em um símbolo histórico anti-ianque falou mais alto, era uma questão de aproveitar uma oportunidade de mostrar a viabilidade de sua própria reeleição. Kadaffi cedeu politicamente nos últimos anos e suas concessões aos trustes imperialistas europeus em nada lhe ajudaram para deter a marcha contrarrevolucionária posta em movimento por seus novos “colegas” como Sarkozy e Berlusconni. Mas é fato que Kadaffi abstraiu, mesmo que tardiamente, as lições da guerra de ocupação do Iraque onde Saddam foi derrotado sem ao menos lutar como uma mínima dignidade nacional. Por isso, apoiado em um sentimento real das massas, que ainda tinham fresca na memória os seus combates anti-imperialistas, Kadaffi armou política e militarmente o seu povo e atualmente está impondo um significativo revés na ofensiva militar da OTAN. Um exemplo vivo deste fenômeno são as batalhas de rua travadas na cidade de Mishata, onde são a próprias milícias populares que enfrentam os “rebeldes” apoiados pela OTAN. É possível que o atual “impasse” militar, onde a OTAN cogita o envio de forças por terra, resulte na balcanização do país, tendo Benghazi, como a capital do novo Estado fantoche. Mas não está descartada uma vitória exemplar do regime nacionalista sobre os invasores imperialistas e seus títeres autóctones. Nesta variante a vitória da Líbia representaria um tremendo impulso na luta anti-imperialista do proletariado mundial, colocando na ordem do dia na própria Líbia a expropriação dos grupos capitalistas que na sua totalidade emprestam suporte ao bloco oposicionista e seu “governo provisório”.


VI – O antagonismo central continua sendo entre os interesses imperiais e os objetivos da classe operária e das massas líbias

Os interesses imperialistas seguem uma ordem de prioridades na guerra de ocupação a Líbia, o primeiro é político, trata-se de legitimar a presença norte-americana em toda região afro-oriental asiática, agora não mais sob o tacão de ferro e fogo, mas sob o símbolo da democracia de dos direitos humanitários da população. A transição democrática operada no Egito e na Tunísia concederam legitimidade a uma possível ocupação da Líbia, que se transformaria em um protetorado militar ianque na região, substituindo os fracassados planos traçados por Bush para o Iraque, insurgente neste momento. Em segundo lugar, vem os interesses econômicos e a Líbia, caso subjugada, poderá oferecer uma âncora momentânea à crise financeira dos EUA. Um primeiro passo já foi dado com o confisco bilionário de todas as reservas cambiais da Líbia depositadas em bancos internacionais. Depois seria feita a quebra do monopólio estatal da extração de petróleo, hoje o regime determina que as empresas transnacionais se associem minoritariamente a estatal Líbia. E por último, mais uma pirataria clássica, ou seja, o roubo das reservas de ouro físico depositadas no Banco Central líbio, orçadas em 15 toneladas de ouro, uma das maiores do mundo superando inclusive a França. Em tempos de crash crônico em Wall Street uma “ajudinha” considerável o “desmonte” de um país onde a qualidade de vida da população supera a do Brasil, por exemplo. Portanto, para a classe operária, muito mais do que para o próprio regime burguês de Kadaffi, a vitória militar e política por sobre os exércitos imperiais é uma questão de manter suas conquistas sociais e ampliá-las no curso do processo de revolução permanente. Os setores vacilantes da burguesia nacional estão sempre dispostos a uma saída de compromisso com o imperialismo, embora esta alternativa no momento esteja cada vez mais distante. A classe operária e as massas populares só devem confiar em suas próprias forças, tendo absolutamente claro que a frente única com o regime burguês de Kadaffi é uma questão tática e nunca uma estratégia de poder. Na trincheira concreta da luta anti-imperialista, os trotskistas devem “conspirar” pela construção de um partido revolucionário agitando para as massas no calor do combate um programa de reivindicações transicionais que permitam a elevação de seu nível de consciência, até a compreensão do socialismo como uma via de superação revolucionária de todas as variantes burguesas, sejam nacionalistas, democráticas ou pró-imperialistas.

LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA

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