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Medianeras
Por André Araujo - Saturday, Mar. 17, 2012 at 4:41 PM

MEDIANERAS: BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL (Medianeras) de Gustavo Taretto Argentina/Espanha, 2011 Com Pilar López de Ayala, Javier Drolas

MEDIANERAS: BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL (Medianeras) de Gustavo Taretto

Argentina/Espanha, 2011

Com Pilar López de Ayala, Javier Drolas

Medianeras é um filme feito pelos hermanos que mostra, sobretudo, a relação do indivíduo com a cidade que o cerca. No caso em questão, Buenos Aires é um lugar no qual milhões se cruzam todos os dias, mas ninguém realmente se encontra, pois a lógica que moldou o comportamento social e até mesmo a infraestrutura urbana nos diz para seguirmos adiante, rumo a um fim que não está definido. São verdades que vivencio também em São Paulo ou em qualquer outra cidade grande. O diretor busca integrar, poeticamente, a capital argentina ao enredo, modificando as paredes de concreto, os emaranhados de fios, a ocultação pelos edifícios em um significado que põe em xeque o desenho dos espaços urbanos contemporâneos.

A obra nos mostra a metrópole portenha vista pela ótica de dois jovens que sofrem de problemas decorrentes da impotência frente à grandeza da cidade, à velocidade da vida contemporânea e à perversidade de um mundo que já não mais atende aos humanos, mas à interesses materiais. Durante a exibição, nos questionamos sobre a nossa existência, marcada por forte presença da tecnologia. Sem dúvida, os computadores afetam a nossa sociabilidade, porém nem sempre negativamente, isso decorrre de serem portas para um mundo distante e desconhecido. Além disso, a tecnologia nos supre com distrações para quando a vida “ ao vivo” passa a ser vivida isoladamente.

Frente a esse contexto, aproveito para falar dos protagonistas, ambos vivem na mesma quadra da Avenida Santa Fé e estão sempre por perto, mas nunca juntos. São apresentados paralelamente e se encontram no final: Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala). Ele, atento às transformações da cidade que habita e viciado nas maravilhas tecnológicas. Ela, crítica da arquitetura da capital e frustrada em sua vida sexual. São pessoas que buscam tapar seus buracos, existenciais e amorosos, através do consumo, do trabalho, dos passeios reflexivos pelas ruas… São alguns confortos que a cultura do século XXI nos apresenta, mas que não constituem uma base suficiente para uma vida suficientemente agradável.

Esses dois, que sofrem pesadamente pelo lado ruim que a modernidade carrega, são fragmentos de um cotidiano com o qual nos identificamos ao assistir o filme. Entre outros pontos, a paisagem de tais cidades é fortemente identificada por prédios que sufocam os pedestres e os moradores, transformando todo o ambiente em uma imensidão sem luz, sem natureza, sem vida social. Tal apresentação é a mesma que senti ao assistir a cidade presente em Alice.

Também vale a pena dizer que Martín vive com um cachorro em seu pequeno apartamento, constituindo a sua relação com o mundo exterior e é através de tal animal que ele sai para a rua, encontra a cuidadora de cachorras e faz sexo casual, mas nunca com relacionamentos permamentes. Foi um presente deixado por sua ex-namorada que abandonou Martín e a Argentina após a grave crise de 2001 motivada pelo programa econômico neoliberal (que pode ser narrada desde passeatas populares até a declaração de Estado de sítio pelo presidente) que mostra uma falha que marca até hoje o povo vizinho. Uma falha também vista no crescimento arquitetônico da cosmopolita Buenos Aires, que possui uma paisagem em constante mudança e uma realidade social tentando se adaptar à nova realidade.

Ao passo que Mariana vive fora de seu apartamento, decorando vitrines, ele trabalha como web designer, fechado em seu apartamento e cercado por objetos que “são os nossos brinquedos: consolos às pressões incessantes por conseguir o dinheiro para poder comprá-los, e que, em nossa busca deles nos infantilizam.” São as palavras de Deyan Sudjic no livro A linguagem das coisas. Portanto, os dois personagens são criadores que expressam a arte para os outros e não para si, tentando fugir de suas angústias, fobias e frustrações diante do cenário caótico e irregular.

Ademais, Medianeras merece destaque pela sua ótima trilha sonora que carrega tanto um ar de melancolia quanto de amor. Outro ponto importante é o modo como a câmera consegue captar as ideias presentes no filme, mesmo nos exíguos espaços das kitchentes de Mariana e Martí quanto nos amplos recortes exteriores de Buenos Aires. De certo modo, recorda-me da genialidade de Polanski em O bebê de Rosemary. Em outras palavras, creio que posso resumir o longa de Gustavo Taretto como uma discussão em torno da solidão e da procura do belo no caos, onde a era virtual predomina sem preencher vazios.

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