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O Partidos os Trabalhadores durante a década de 1980
Por Alessandro de Moura - Wednesday, Jul. 25, 2012 at 1:08 PM

Este trabalho é parte de sínteses iniciais apresentadas na dissertação de mestrado ?Movimento operário no ABC e na Volkswagen (1978-2010)? defendida no programa de pós-graduação da Unesp-Marília em 2011 e disponível no site da instituição . O estudo continua em desenvolvimento nos estudos de doutorado também na Unesp-Marília. Tem como objetivo elencar elementos para traçar um panorama dos principais delineadores políticos e programáticos constitutivos do Partido dos Trabalhadores e de seu núcleo dirigente.

O PARTIDO DOS TRABALHADORES DURANTE A DÉCADA DE 1980
Alessandro de Moura
RESUMO
Este trabalho é parte de sínteses iniciais apresentadas na dissertação de mestrado ?Movimento operário no ABC e na Volkswagen (1978-2010)? defendida no programa de pós-graduação da Unesp-Marília em 2011 e disponível no site da instituição . O estudo continua em desenvolvimento nos estudos de doutorado também na Unesp-Marília. Tem como objetivo elencar elementos para traçar um panorama dos principais delineadores políticos e programáticos constitutivos do Partido dos Trabalhadores e de seu núcleo dirigente.
Palavras-chave: Partido dos trabalhadores, Movimento operário do ABC, Década de 1980.
ABSTRACT: This work is part of the initial summaries presented in the dissertation "ABC Workers' movement in Volkswagen (1978-2010)" held in the program graduate from UNESP-Marilia in 2011 and available at the institution [2]. The study is still under development in doctoral studies also at UNESP-Marilia. It aims to list elements to give an overview of the main constituent delineators policy and program of the Workers Party and its leadership core.
KEYWORDS: Workers 'Party; The workers' movement ABC; Decade of 1980.

1. INTRODUÇÃO: Neste breve trabalho buscamos analisar elementos da história da construção do Partido dos Talhadores (PT), para isso buscamos resgatar algumas das principais correntes políticas e sociais que compuseram o partido desde sua fundação. Considerando o programa de tais correntes, buscamos compreender as principais orientações do partido, e assim as correntes que exerceram hegemonia nos rumos do mesmo. A base que dá sustentação para a fundação do partido é sem dúvida os operários e operárias do ABC paulista que estava rebelado em greves massivas desencadeadas pelos mesmos durante os anos 1978/1979 e 1980. (confira: MOURA, 2012). Mas entre os grupos organizados tem peso de direção o grupo denominado de ?sindicalistas autênticos?, setores da Igreja Católica, correntes oriundas da luta armada e, ainda correntes de inspiração trotskista. A conjuntura brasileira ganha ainda mais relevo se considerada o cenário internacional, onde além de greves, eclodiam as revoluções na Nicarágua, Iran e Polônia.
A partir destes destacamos que no Brasil, as principais direções do movimento grevista vão travar intenso esforço para que o movimento operário limita-se as determinações institucionais. Assim, da mesma forma como agirá em relação ao ascenso do operariado do ABC, da CUT e com todo protagonismo do movimento operário durante a década de 1980, combatendo e buscando minar as tendência manifestas de independência de classe que podiam impor uma crise aguda à ordem burguesa, também na construção do PT, o grupo dos autênticos, emergido como Articulação dos 113, funcionará como um freio para a impor o controle das massas proletárias que afluíram para o PT, impedindo-as de utiliza-lo como instrumento a serviço da derrubada da ditadura militar-burguesa, e depois, também com os mesmo métodos, prevenindo a derrubada do governo Sarney. Assim, evidencia-se que a defesa da ordem democrática burguesa, patronal e de seus consortes predomina no Partido ainda na primeira metade da década de 1980.
2. BASES SOCIAIS E DIREÇÃO POLÍTICA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES
Em meio à eclosão das greves massivas dos operários e operárias do ABC, e frente à projeção nacional da figura de seus dirigentes, discutia-se a viabilidade da fundação de um novo partido político voltado aos interesses dos trabalhadores. ?A radicalização das lutas sindicais que chega ao auge em 1978 empurra os grevistas à esfera política, daí a formação do PT com os inúmeros grupos que permeiam sua composição interna?. (TRAGTENBERG, 1988).
A partir de 1978 intensificavam a possibilidade de criação de um partido que se contrapunha ao programa do MDB e do ARENA. A opção do MDB por maior moderação nas eleições de 1970 torna mais coesa a organização de uma de suas correntes, que era denominada de ?autênticos do MDB?. O MDB era composto por um amplo leque de tendências sociais e políticas, conforme analisava a Carta de Princípios do PT, entre os militantes do MDB incluíam-se ?industriais, operários, fazendeiros e os peões, comerciantes e comerciários?. Setores desta ala esquerda vão cogitar a criação de um novo partido. O PCB, PC do B e MR8 também compunham o MDB, e, quando este se converte em PMDB, estas correntes irão apoiar a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, distanciando-se novamente das multidões de trabalhadores e trabalhadoras que apoiará as Diretas Já, arrastando consigo o apoio do PT.
Mas foi das bases do ABC que emergiu com grande força uma nova proposta partidária. Em meio às mobilizações de massa e as assembléias plebiscitárias de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, um setor dos sindicalistas grevistas, que havia exercido papel de direção política e conquistado grande projeção entre os trabalhadores e trabalhadoras em greve, levantou a bandeira da construção do PT, entre estes estavam; Lula, Jacó Bittar, Paulo Skromov e Wagner Benevides.
A proposta de criação de um Partido dos Trabalhadores é lançada um mês após o ciclo de greve de 1978 desencadeado pelos operários e operárias do ABC. De acordo com Berbel a proposta de criação do partido já teria sido lançada ?pelo presidente do Sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Luis Inácio da Silva (Lula), um mês após a realização das primeiras greves em São Bernardo do Campo, em 1978?. (p. 01). Tragtenberg (1988) destaca que a criação do PT não foi consensual entre as correntes políticas pois ?o PT encontrou seus opositores nos setores mais burocratizados da chamada esquerda como o PCB, PC do B, MR-8?. Buscando construir a transição pactuada estas tendências lutaram contra a criação do PT enquanto puderam.
Segundo Berbel, o PCB, desde o surgimento da proposta de fundação do PT, adota posição contrária a sua criação, chegando a participar de reuniões com intuito de boicotar e dificultar a possibilidade de construção do partido. De acordo com Santana (2001), ?Coerente com sua política de frente contra a ditadura, organizada no MDB, o PCB buscará constantemente esvaziar o debate acerca do PT e indicar o caminho, a seu ver, mais correto?. (p. 199). Ao invés de apoio a construção do PT, o PCB conclama a classe trabalhadora para que articule-se em apoio ao MDB. O PCB sustentará esta posição durante toda a década de 1980. Santana (2001) discorre sobre a posição do PCB em 1978 em relação à formação do PT.
(...) o PCB conclamava o povo a votar no MDB nas eleições de novembro de 1978. Na lógica do partido, como ficou explicito no pronunciamento da Comissão Executiva do Comitê Central do partido, publicado no Voz Operária no 146, de maio de 1978, ?todo voto atribuído ao MDB é um voto de oposição, de repúdio à continuação do arbítrio e, nesse sentido, é um voto válido e democrático?. (...) assiná-la que, naquelas condições, seria equivocado precipitar a formação aberta de novos partidos, na medida em que isso enfraqueceria a unidade oposicionista representada pelo MDB e favoreceria as manobras diversionista do regime. O PCB indica, assim, qual deveria ser a postura não somente até as eleições, mas sim até o fim do regime. (p. 188).
Estas tendências e correntes políticas acabam por se organizar com as frações mais reformistas do MDB-PMDB. Por esse motivo, muitos de seus militantes rompem com este partido e vão aderir à proposta de criação do PT que tem suas teses apresentadas em janeiro de 1979, no congresso de Lins (entre os dias 22-26).
Em janeiro de 1979 foi apresentada e aprovada a tese elaborada pelos metalúrgicos de Santo André, ao IX Congresso dos Trabalhadores Metalúrgicos do Estado de São Paulo, que se realizou em Lins. Este Congresso com milhares de delegados, representava um milhão de metalúrgicos e deixava claro que o partido que queriam construir baseava sua legitimidade em que tanto o programa como seu funcionamento deveriam expressar o perfil classista dos trabalhadores e sem a interferência dos patrões. Assim se votou pela primeira vez a proposta do PT e se decidiu constituir uma comissão para integrar outros estados e avançar na discussão do programa e dos estatutos. (CADERNOS ESTRATÉGIA INTERNACIONAL BRASIL, 2008, p. 96).
As greves de 1978, 1979 e 1980 haviam atraído amplos setores sociais que se solidarizavam com a luta operária. Além disso, antes mesmo de se consolidar, enquanto movimento pró-PT, setores do proletariado que compunha os núcleos de base do movimento desempenhavam importantes ações de solidariedade às lutas operárias, ajudavam a organizar piquetes, greves, ocupações, arrecadação de alimentos, etc. Com isso estabelece-se relações orgânicas com a base proletária, parte deste apoio será canalizado para a construção do Partido. Baseando-se nestes aspectos Berbel aponta que o movimento pró-PT cumpriu papel importante na organização das greves do ABC.
Diferente dos outros partidos, o PT esteve presente durante o movimento através da direção do sindicato e da organização desta solidariedade, sem, no entanto, em momento algum, procurar elaborar uma política para esta greve. Ainda que umbilicalmente envolvido, o PT não conseguiu desencadear um envolvimento mais consistente de solidariedade. Através de sua direção nacional, lançou-se a perspectiva de uma greve geral de solidariedade, que foi descartado imediatamente pelos dirigentes da ?Unidade Sindical? [dirigida pelo PCB, PC do B e MR8]. Nenhuma proposta que unificasse todos aqueles que se manifestavam em solidariedade foi elaborada, procurando contornar os setores do movimento sindical que se colocavam em aberta divergência. (BERBEL, p. 123 ? grifo nosso).
Segundo a autora, a atuação em apoio às greves do ABC foi protagonizada pelos militantes de base. A direção política do PT preocupada com o risco de afrontar as classes médias que apoiavam a construção do partido, e temendo a radicalização da base do PT opta por separar a luta política da luta sindical. Desta forma, conforme destaca Matos (2004):
Já em 1980-81, em seu nascimento, o PT mostrava a quê veio quando se negava a colocar seu aparato a serviço das heróicas greves protagonizadas pelos operários do ABC, para não se contrapor à ditadura e ameaçar seu processo de ?legalização?, como demonstram as declarações do próprio Lula na época. Desde o princípio o PT sempre se aliou aos setores burgueses que se encontravam no MBD, para impedir que o ascenso grevístico se chocasse diretamente contra o a ditadura e derrubasse de forma revolucionária o já podre regime de 1964.
3. AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASES NA FUNDAÇÃO DO PT
As Comunidades Eclesiais de Base teriam grande peso na construção do PT, pois estas comunidades estavam enraizadas nos mais variados bairros proletários. No ABC desenvolve-se uma relação de proximidade muito grande entre os militantes operários e suas famílias e as Comunidades Eclesiais de Base. Durante a greve de 1979 a diocese regional do ABC dirigida pelo bispo Cláudio Hummes tem importante participação na arrecadação de alimentos para o fundo de greve, mas também serviu como espaço para realização de reuniões, plenárias e assembléia de trabalhadores e trabalhadoras.
Em principio, os militantes da CEBs não voltaram-se para o PT. Porém o surgimento do partido como ?partido dos assalariados?, disputaria espaço com os núcleos de bairros e Comunidade Eclesiais de Base. O PT assimila uma série de demandas colocadas pelas CEBs. Com isso capta muitos dos militantes católicos. Segundo Berbel, as CEBs só se voltariam para o PT forma significativa em 1980. (BERBEL, 1991).
4. OUTRAS CORRENTES NO PT
O PST, (antiga Liga Operária) trotskista, de orientação morenista, em 1978 também discutia a necessidade de fundação de um partido. Criaram neste ano um movimento denominado Convergência Socialista, em poucos meses reunira 800 militantes. Como vimos inicialmente, esta corrente vai tomar parte na fundação do PT desde os seus primeiros momentos. Esta vai ainda manter-se no PT durante toda a década de 1980, sendo expulsa em 1991.
Outra tendência que também comporia o PT seria a Ação Popular (AP). Esta surge em 1962 da Juventude Universitária Católica, derivava das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs). A Ação Popular, a partir de 1963 aproxima-se do stalinismo e passa a denominar-se marxista-leninista. (GORENDER, 1987: BERBEL, 1991). Em 1965, estreitando relações com Cuba, simpatiza-se pelo foquismo e decide-se pela luta armada. A partir de 1971 passa a denominar-se Ação Popular Marxista-Leninista.
De acordo com Gorender, a AP ?foi convencida pala doutrinação chinesa da presença de sobrevivências de um suposto feudalismo na sociedade brasileira. Em decorrência, trocou-se a perspectiva da revolução socialista como tarefa do presente pela teoria da revolução em duas etapas. O que fez da revolução nacional e democrática a tarefa do presente?. (p. 114). Desta forma, a aproximação da maioria da Ação Popular Marxista-Leninista (AP-ML) evoluiu para idéia de fusão com o PC do B. Para isso era necessário a ?aceitação de sua legitimidade como único partido revolucionário da classe operária brasileira. A primeira linha doutrinária: o stalinismo irrestrito, que se tornou o universo ideológico comum de ambas as organizações. (...)?. (p. 116). Em 1973 a maioria dos militantes desta organização decide fundir-se ao PC do B.
Outra corrente que aderiu ao PT foi a Ala Vermelha, uma corrente dissidente do PC do B que também defendia a revolução por etapas, o ?socialismo num só país? e a aliança com a burguesia nacional. A Ala vermelha, de inicio defendia a conciliação da guerra popular prolongada de Mao Tse Tung e o cercamento da cidade pelo campo, com o foquismo. Este afluxo de militantes oriundos das fileiras do stalinismo para o PT exercerá influencia significativa nos rumos do partido.
Também adentraram ao PT militantes do POR(t), Partido Operário Revolucionário Trotskista orientava-se a partir do referencial de J. Pousadas. Estes efetivaram uma forma de entrismo no PT, nesta forma de incorporação o militante de um partido entra em outro para receber informações estratégicas, ocupar posição de direção, influenciar nos rumos do partido com propostas e construir base no partido que está sofrendo entrismo. O PCB também operou entrismo no PT (DANTAS, 2010). Outra corrente que compôs o PT foi a corrente lambertista (de Lambert) brasileira que se denominada LIBELU (Liberdade e Luta que se converteria na corrente O Trabalho, ainda hoje no PT).
Também a corrente mandelista (de Hernest Mandel), a Democracia Socialista (hoje PSOL) e a Organização Socialista Internacionalista. Dantas (2010) afirma que estas tendências, embora reivindicasse o trotskismo, acabaram por se adaptar à direção de Lula e dos sindicalistas ?autênticos?. Este processo de capitulação aos caudilhos remonta aos desdobramentos do pós-guerra, e ao chamado trotskismo de Ialta, que marcam o período em que a maioria das correntes trotskistas adaptaram-se a imediaticidade dos movimentos de massa. (DANTAS, p. 20).
Por conta do ascenso de centenas de milhares de operários, trabalhadores e trabalhadoras das cidades e do campo, os dirigentes das greves do ABC e do novo sindicalismo foram laçados ao centro da cena política nacional, neste processo esta direção buscava isolar os setores considerados mais radicais. Segundo Bebel (1991) ?Tal experiência, permitiu à direção da greve ser o centro gravitacional de uma nova proposta partidária que atrairá diferentes setores da esquerda brasileira?. (p. 2). As discussões entre as diversas tendências e correntes políticas, acerca do caráter que o partido deveria expressar, estende-se por pelo menos dois anos.
Já em 1978, trechos da Carta de Princípios circulam na grande mídia. Porém, na prática, embora o texto repudie a composição política com setores burgueses, a ala majoritária da direção do PT defendia a necessidade de aliança com setores do MDB para criação do Partido dos Trabalhadores. Centralmente, a ala lulista, referia-se ao setor do MDB composto pelos ?autênticos do MDB?, mas este setor era dirigido justamente por setores da pequena burguesia radicalizada contra a ditadura militar-burguesa. Esta ala será incorporada, exercendo sempre importante peso na direção dos trabalhos do partido. (COGGIOLA, 2010: DANTAS, 2010). Desta forma, direção do partido será exercida por uma burocracia que oscilava à esquerda em favor da pequena burguesia. Com a derrota das mobilizações dos operários e operárias do ABC em 1980, somado aos novos ascensos da década de 1980, Diretas Já e o ascenso das greves do funcionalismo público, a correlação interna de forças no PT favorece ainda mais a hegemonia da pequena burguesia. Ou seja, mesmo sobre influencia de militantes socialistas, o partido não nasce como um partido marxista, socialista, com qualquer corte de partido revolucionário. Com tal composição inicial, o PT em sua origem configura-se como amorfo e indefinido, sendo que:
(...) Tinha, por um lado, a marca da classe operária (que procurava se expressar politicamente) em luta contra a ditadura, mas também tinha a marca dos setores reformistas que buscavam um partido policlassista e o empurravam ao terreno da transição democrática. Isto ficou evidente na política do PT para as eleições de 82 que tinha como palavra de ordem trabalhador vota em trabalhador. Isto é, uma política de classe, ainda que reformista que avalizava a armadilha eleitoral com a qual a ditadura se mascarava. (CADERNOS ESTRATÉGIA INTERNACIONAL BRASIL, 2008).
Em meio ao processo de fundação do partido, sob direção Lula e dos sindicalistas autênticos, buscava-se apartar o operariado mobilizado dos principais fóruns deliberativos do partido. Determinava-se a separação da luta sindical da luta política. Para a luta sindical, econômico-corporativa utilizava-se o sindicato do ABC e a CUT, para a luta política reformadora do Regime utilizar-se-ia o PT. Segundo Matos (2011), a separação entre as lutas econômicas e as lutas políticas seriam elementos constitutivos do modo petista de militar, segundo esta estratégia, ?Aos sindicatos cabia lutar pelo emprego e salário; ao partido cabia a luta política. Esta separação foi justificada por inúmeros intelectuais e pelo próprio Lula como uma estratégia que se diferenciava tanto do stalinismo como da social democracia e que deveria primar por um suposto ?espontaneismo?, através do qual os trabalhadores e o próprio Partido iriam chegar a posições sobre o socialismo e outras questões ao sabor de suas lutas?. (p. 140). Análise convergente é feita por também José Carlos Brito, militante sindical e político durante a década de 1980 quando afirma que no período o sindicato era entendido como uma organização que tinha por fim ?proteger os metalúrgicos, que ingressavam num processo de declínio como categoria e como perspectiva de trabalho futuro, e o PT como organização política para atuar nos períodos eleitorais?. Assim, como consequência, para Brito
O partido político, criado dessa forma, acabou sendo um reflexo das limitações pelas quais o sindicato se estabeleceu como corporativista, transpondo a questão das datas-base para a reivindicação salarial, com possíveis greves ou não no sindicalismo, para aquilo que correspondia no partido a eleições ? igualmente com data marcada -, sem que nesse intervalo se criassem ações permanentes de trabalho social, condição primordial para a organização do movimento social. (In: Tragtenberg, Uma Vida para as Ciências Humanas. Editora Unesp, pág. 317).
Com o refluxo da luta sindical entre os anos 1980-1982, causado pela derrota da greve de 1980, a direção da greve fica ?liberada? para concentrar-se no direcionamento da organização do partido, podendo fazê-lo com o mínimo de intervenções da base operária radicalizada. Tem-se nesse momento condições para consolidação da burocracia sindical na formação da Articulação dos 113, que seria o núcleo diretivo do PT. A mesma direção política do sindicato do ABC consolidam-se como a principal direção do PT. Esta já se fazia maioria no dia 10 de fevereiro de 1980 quando funda-se oficialmente o PT no Colégio Sion de São Paulo. Na fundação do partido, sob hegemonia dos autênticos, reafirma-se o caráter burocrático-administrativo do PT, sua estruturação impede que se desenvolvam mecanismos que permitam ao grande contingente de proletários de sua base se pronunciem. Desta forma, conforme analisa Matos (2011), a formação do Partido dos Trabalhadores expressava caráter ambíguo, pois ao mesmo tempo em que expressava importante influência classista de dezenas de milhares de trabalhadores sobre os rumos e determinações políticas do país, a consolidação do PT como partido também teria sido uma forma de expressão do desvio deste processo. Ainda, segundo o autor, (...) ?essa ambigüidade, justamente pela ausência de uma clara estratégia revolucionária, assentou as bases para a posterior integração do PT ao regime democrático burguês. (p. 139).
Durante todo o processo que levará a consolidação do PT, fortalece-se cada vez mais uma burocracia partidária nucleada pelos autênticos e pela pequena burguesia, que buscavam destacar e isolar as alas mais progressivas e distanciar-se da base radicalizada. A direção do partido para deliberar sobre suas ações, a cada passo, fazia-o em separado, longe de qualquer mecanismo de intervenção de suas bases. Por isso Dantas (2010) afirma que os trabalhadores nunca controlaram o partido que estavam criando, segundo o autor ?O PT nasceu de uma proposta do movimento sindical (sindicato dos metalúrgicos de S. André), mas este influxo não tomou forma democrática na direção do PT, desde o inicio centralizado nas mãos da direção dos sindicalistas ?autênticos? e de Lula. (p. 19). Consolida-se, a cada passo, como um partido que lutaria por reformas no sistema social capitalista. De acordo com Tragtenberg (1988), já em boletim do partido de 1981 destacava-se
Se você é trabalhador e acha que a situação não está boa; se você quer que o Brasil seja um país onde todos tenham garantia de emprego e um salário digno; se você quer um serviço de atendimento médico e ensino de boa qualidade e inteiramente gratuito; se você entende que o preço dos aluguéis é muito elevado e que os impostos são um roubo contra o trabalhador contribuinte; se você quer ter o direito de se organizar num sindicato independente e que lute pelos seus direitos; se você acha que os trabalhadores rurais devem ter a terra que necessitam para plantar; e, enfim, se você acha que está tudo errado e que o Brasil precisa ser governado de uma maneira justa e honesta, venha então somar forças conosco e construir o PT ? Partido dos Trabalhadores. ? ENTRE PARA O PT E GOVERNE O BRASIL.
Porém, amparado sobre o movimento operário que procurava por uma organização combativa que representasse seus interesses, os sindicalistas, trabalhadores de base e setores da intelectualidade encontraram terreno fértil e apoio massivo para a construção do PT. Embora proclame-se como uma novidade no cenário político-partidário brasileiro, para sua constituição haverá fusões, bem como incorporações programáticas e acolhimento inclusive com setores do PCB, PC do B e MR8. A estratégia de organização política e de luta da Articulação receberá influência direta dos setores oriundos do stalinismo. Conforme destaca Antonio Ozaí da Silva (2003), a Articulação receberá militantes, teóricos, dirigentes políticos e sindicais que haviam rompido com o PCB, como já possuíam elevado nível de experiência militante e organizativa, foi possível a estes galgarem importantes posições de direção do PT:
Esses quadros são originários do PCB e PC do B ? e das suas cisões. Suas referências ideológicas são: a revolução cubana, a China e, em certa medida, outros países no Leste Europeu, como a ex-Alemanha Oriental (RDA). Formados predominantemente no caldo cultural stalinista, romperam com o reformismo e a teoria da revolução por etapas e, em sua maioria, abraçaram, desde o início, o projeto de construção do PT como partido estratégico ? inclusive como fundadores da ART. Os laços com Cuba induziram à identificação de parcela destes marxistas com o castrismo. Seria este o núcleo dirigente da ART? De fato, parte expressiva dos quadros que organizam a ART provém da experiência da luta armada, em particular dos setores vinculados à ALN. Por isso, concretizou-se a idéia da existência de um grupo castrista organicamente estruturado no interior da ART. Mas, além desses, há outros militantes formados em outras vertentes da tradição marxista: Eder Sader e Marco Aurélio Garcia (POLOP), Luiz Gushiken e Vito Letizia (de formação trotskista) etc. (p. 3).
Embora o PT nasça criticando o ?socialismo? anti-democrático, manterá intensas relações com seus representantes diretos. De acordo com Antonio Ozaí da Silva (2003) além da influência estratégica no PT, seus dirigentes têm relações amistosas com as burocracias de corte stalinista. Analisa que o partido
(...) manteve relações incestuosas com a burocracia governante e dirigente dos partidos comunistas do Leste e cultuou o Partido Comunista cubano e sua liderança, apoiando-os acriticamente. Com efeito, várias delegações petistas são enviadas para fazerem cursos de marxismo na Alemanha Oriental, cujo partido governante já foi chamado de partido irmão. Um dos grupos de petistas que viaja a esse país, para aprofundar sua formação política, vê-se em situação constrangedora diante dos protestos populares bem diante da sede do partido onde aprendiam o ?marxismo real?. As dezenas de militantes, selecionados por vínculos políticos e pessoais, que vão aprender marxismo na pátria de Marx são quadros políticos vinculados à corrente majoritária. Para muitos é a primeira experiência internacionalista e/ou a primeira oportunidade de aprofundamento dos rudimentos teóricos que tinham adquirido nos embates concretos e nos cursos ministrados no Instituto Cajamar ? que se tornou o centro, por excelência, de formação política da ART. Nas salas de aula da ex-RDA, esses quadros políticos ? os futuros formadores da base da ART ? aprendem um marxismo que, como testemunha Frei Betto, ?em nome da mais revolucionária das teorias políticas surgidas, na história, ensinava-se a não pensar?. Nesse país, os nativos são obrigados a aprender a língua russa, tinham uma formação manualesca e assimilavam a história do processo revolucionário na Rússia pela leitura mecanicista da História do Partido da União Soviética, publicada por Stalin em 1938. (pg. 9-10).
Sob influência direta da teoria da revolução por etapas, buscarão lutar primeiramente pela chegada aos cargos do Estado burguês para atingir a modernização do capitalismo brasileiro. Apenas em uma faze posterior é que se poderia discutir efetivamente o socialismo. Também Álvaro Bianchi (2001), afirma que pelo menos desde 1985, já se expressavam elementos programáticos oriundos do PCB na direção do PT. O partido passa a ser apresentado como uma ?alternativa democrática e popular?. De acordo com o autor, o 5º Encontro do PT realizado em 1987, reafirmaria elementos da estratégia do PCB no interior do Partido dos Trabalhadores. Mesmo que com diferenças, a direção do PT também orientará os militantes e base de apoio para que trabalhassem primeiramente, em conjunto com setores da burguesia, pelo estabelecimento da democracia burguesa. Desta forma, podemos dizer que o PT seria a maior tendência política organizada na luta pelo pacto social de transição negociada em prol de setores da burguesia. A confluência entre os setores reformistas, oriundos sobre tudo das direções das greves do ABC, com a perspectiva do PCB de aliança com setores progressista da burguesia, é reafirmada por meio das resoluções políticas do 5º Encontro Nacional do PT. (BIANCHI, 2001).
No entanto, para construir a via do pacto social, a Articulação se via obrigada a combater permanentemente as alas mais radicalizadas dos militantes do PT. A Articulação luta durante anos a fio para isolar os grupos a sua esquerda, sobretudo os setores combativos oriundos das greves e os trotskistas, tratava-se de buscar manter a hegemonia da Articulação no partido. Assim, Silva (2003) argumenta que mesmo o PT convivendo com diversas tendências internas, será a Articulação que imprimirá as delimitações políticas e programáticas do partido.
Tendência majoritária, a Articulação (ART) é a face do PT. Sua política, suas teses, sua prática social e partidária dão o tom ao partido. Detentora do controle da direção partidária, com o domínio da máquina burocrática, a maioria dos parlamentares e dos prefeitos, a ART é a principal responsável pela práxis petista, por suas formulações estratégicas, concepção de socialismo e modelo de partido. Não é exagero afirmar que a evolução do PT se confunde com sua trajetória. Essa influência política determinante tem raízes na própria constituição do PT. O elemento essencial para a formação do PT foi a participação dos sindicalistas. Com efeito, os dirigentes sindicais expressam um dos pilares de sustentação do PT, que lhe dá um caráter de massa. O prestígio dos sindicalistas reflete essa relação ? principalmente pelo carisma de lideranças como Lula. Essa base sindical é constituída por diferentes categorias e setores econômicos ? com destaque para os metalúrgicos do ABCD. A militância da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), também contribuíram para o crescimento e a consolidação do PT no meio rural. No III CONCUT, 94,1% dos delegados rurais declararam preferência pelo PT. A ART é a principal porta de entrada para o novo contingente de trabalhadores que desperta para a luta política e para muitos dos que decidem assumir a militância partidária.
A negação da realização de Congressos do partido, durante toda a década de 1980, pode ser tomada como expressão da cisão operada entre as demandas históricas e sociais bases e as instâncias de decisões do partido. Como recorda Coggiola, o I Congresso Nacional do partido é realizado apenas em 1991, quase doze anos depois do lançamento de sua proposta de fundação. A direção do partido mantinha a preocupação de anunciar demandas do proletariado, como forma de sustentar seu apoio à direção lulista, em uma política pendular, busca conciliar elementos parciais e imediatos das pautas do movimento operário com as demandas da pequena burguesia. Desta forma o PT colocava-se como partido do ?entendimento?. Por isso, Coggiola (2010) caracteriza o PT como um partido centrista pequeno burguês, que oscilava entre os interesses da pequena burguesia, que o dirigia, e parte das demandas mais candente do proletariado que compunha sua base.
Segundo Coggiola (2010) e Dantas (2010), mesmo o PT sendo apoiado sobre uma base eminentemente proletária, articulado algumas de suas principais demanda imediatas, sua direção, exercida centralmente pelos sindicalistas autênticos, dirigia o partido fugindo do controle de sua base. A direção gozava de certo descolamento destas. Não haviam mecanismos que permitissem à base conduzir o partido. Com isso ?O PT das origens não eclodiu e nem se estruturou sob controle dos trabalhadores combativos?. (DANTAS, 2010).
Acobertado tais aspectos, em meio a um novo período de ascenso da luta de classes decorrido entre 1983-1988, as adesões ao partido ampliavam-se, mas o mecanismo de direção continuava concentrado nas mãos de uma burocracia partidária. A proposta de um partido dos trabalhadores atraia cada vez mais aderentes, ao mesmo tempo deixava-se intocado o caráter da direção. A hegemonia sobre os rumos do partido permanecia sobre orientação dos autênticos. Mesmo ampliando a base de apoio, a direção do partido ainda toma as decisões em separado destas bases, com isso o projeto de partido de lula e dos sindicalistas autênticos e da pequena burguesia que compõem o PT mantém-se intocável. Para Coggiola, a base do partido era proletária, mas a direção configurou-se como pequeno-burguesa. As diversas forças políticas que integraram o partido não foram capazes de travar a luta necessária para reverter este mecanismo. De acordo com Matos (2011), composto por uma série de correntes o PT era marcado por constantes atritos entre suas duas estratégias principais, o classismo proveniente de suas bases, e o reformismo-eleitoreiro da direção petista. Estas estratégias conviviam em intensa disputa, que acabava por determinar ambigüidades nas resoluções e atuações do partido.
Durante boa parte dos anos 1980, o PT esteve marcado pelas tensões entre o que trazia de classismo proveniente do ascenso operário e a marca crescente da estratégia reformista/eleitoralista, dando expressões contraditórias para sua adaptação ao regime, apesar de que sua evolução de conjunto apontava no sentido da completa integração que ocorreria anos depois. Deste modo, compreende-se como o PT, ao mesmo tempo em que não foi um dos assinantes da lei da Anistia, constituiu-se como um avalista da mesma. Apesar de não ter defendido o voto indireto para a presidência em 1984, assentou as bases para esse pacto na medida em que se diluiu em um movimento policlassista que defendia as ?Diretas já? pela via institucional e impediu que a CUT levasse a cabo sua resolução de greve geral para impor eleições livres pela ação direta das massas. O PT não assinou a Constituição de 1988, mas depois se tornou defensor da mesma, sem, entretanto, recorrer aos métodos da luta de classes para resistir aos ataques neoliberais que eram desferidos contra ela. Para minar as contradições provenientes de sua origem, a direção majoritária do PT, ao mesmo tempo em que cumpria um papel determinante no desvio do Ascenso, expropriando-o politicamente em beneficio de uma localização como ?ala esquerda? do regime democrático burguês que surgia, destruía os componentes de democracia operária que se expressavam tanto nos núcleos de base do PT como na estrutura organizativa do PT.
5. A DELIMITAÇÃO POLÍTICA E PROGRAMÁTICA DO PT
Inicialmente este era definido como um partido de frente única contra a ditadura. A direção do partido optou por não se definir como socialista, alegando que suas bases não eram socialistas. Desde a construção inicial do PT, o grupo de Lula e dos sindicalistas autênticos (Articulação-PT), não buscou incorporar de forma transitória as demandas imediatas e mediatas dos despossuídos de meios de produção. Em nenhum momento contraponha os latifundiários à coletivização das terras, o trabalhador aos industriais e assim a coletivização dos meios de produção. Nunca pensou em dissolução da estruturação política institucional do país, como dissolução do congresso, etc. Pelo contrário, a Articulação combatia o tempo todo as propostas das frações mais a esquerda expressas dentro do partido. Chegando inclusive a expulsar militantes que defendiam o marxismo revolucionário (DANTAS, 2010). Em 1988 expulsa do seu interior a tendência Causa Operária, que deu origem ao Partido da Causa Operária (PCO), em 1991 expulsa a Convergência Socialista, que daria origem ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Gadotti e Pereira atestam o esforço de Lula para desqualificar e isolar as demandas e propostas defendidas por militantes combativos: ?Eu entendo ? declarou [Lula] à revista Isto É de 20 de fevereiro de 1980 ? que estes grupos radicais têm que evoluir politicamente até o ponto de entender que propostas políticas radicais não têm vez no meio da classe trabalhadora. (...). (p. 22).
Para a ala representada por Lula no PT, tratava-se de lutar pela mudança do Governo Militar e não pela ruptura com a ordem capitalista. O partido, mesmo proclamando que não aceitariam o patronato e a burguesia no partido, considerava que a aliança com setores da burguesia, supostamente ?progressistas?, como indispensável, por isso não dispensavam apoio de setores do PMDB. A discussão que predominou no PT foi a de priorizar a luta imediata, a pauta do dia, ou seja, a luta contra a ditadura e pela democracia burguesa. Mesmo no que tange a luta contra a ditadura o PT expressa limites claros, pois, assim como os stalinistas do PCB, PC do B e MR8, acabou por apoiar a transição pactuada. O PT foi um avalista da anistia ampla e irrestrita, que absorvia os agentes da ditadura militar-burguesa torturaram e assassinaram militantes, sindicalistas, socialistas e demais lutadores sociais. (DANTAS, 2010: MATOS, 2011). Desta forma, Matos (2011) analisa que a ala majoritária do PT acabou ?legitimando pela esquerda? o pacto de transição ?lenta, gradual e pacífica? do regime militar para a ?democracia? burguesa, contribuiu para a preservação das instituições repressivas que se forjaram durante os ?anos de chumbo? na medida em que nunca levou adiante a luta por uma verdadeira comissão independente de verdade e justiça. (p. 141).
Esta saída pactuada impediu a derrubada do regime militar-burguês e da base que lhe garantia sustentação: a burguesia e o patronato. Impediu assim o movimento operário de trilhar um desenvolvimento autônomo em relação às classes dominantes e seus consortes, esta opção levou ao progressivo fortalecimento das classes dominantes brasileiras. A burguesia e o patronato, em busca da conservação hierárquica de classes, seriam agora os condutores do proletariado impedindo que os trabalhadores se articulassem como classe revolucionária contra a estruturação secular que os subsume. A burguesia e o patronato agem novamente como forma de dissolver a organização da classe operária, os sindicatos continuaram sendo interditados pelo governo ditatorial-burguês.
Para a construção da saída pactuada era estratégico pautar-se pelas lutas imediatas, visando conquistar cargos políticos, ampliando a participação dos trabalhadores na gestão do estado burguês capitalista. A declaração de José Dirceu e Oliveira Silva, dirigentes e fundadores do PT, em 1989, no prefácio do livro Pra que PT (1989) é expressão desta perspectiva, destacando quais políticas devem ser seguidas e quais caminhos devem ser trilhados pelo partido, afirma:
Saindo de sua fase de partido de resistência, o PT se encontra hoje frente ao desafio de ser uma alternativa de poder. Para isso desenvolve uma política de alianças e trabalha em um plano de governo, já que não governará apenas para a classe trabalhadora. Nas condições brasileiras, criar um partido de trabalhadores, enfrentar o preconceito, a ditadura e o poder econômico, já é em si revolucionário. No entanto o ato de fazer política representa, em nosso país, uma ruptura com a ignorância e a passividade social, tão ao gosto das elites dominantes. (p. 12).
Mesclando sempre elementos e demandas do proletariado e da pequena-burguesia, e subalternizando a primeira à segunda, a ala majoritária do partido utilizava as indefinições programáticas em beneficio próprio. Por outro lado, sempre que necessitava do apoio do proletariado, a Articulação buscava situar-se mais à esquerda do que realmente estava, como pode-se observar pela consigna levantada nas eleições de 1982 ?Vote no três, o resto é burguês?.
Mesmo sendo fruto de um intenso processo de luta de classes, com o isolamento do proletariado radicalizado da direção do partido, segundo Coggiola, o PT repetiu a forma de desenvolvimento dos partidos trabalhistas, que não se constituem sobre a base como um programa marxista revolucionário, mas sim sobre os movimentos de ascensão das lutas proletárias, conduzindo-os dentro dos limites da democracia burguesa, que em ultima instancia reafirmam a dominação da burguesia e do patronato sobre os despossuídos de meios de produção.
Ao longo da década de 1980 a ala majoritária do PT buscará desloca-se das determinações da base proletária, moldando, sob as bases pequeno-burguesas que compunham o partido, formas de atuação mais conservadoras que reafirmavam a luta pela mudança do Regime sem ruptura com a ordem e descartando, sempre que possível, a luta e enfrentamento direto contra a burguesia, o patronato e o latifúndio. Ainda que de forma distinta, e em outro nível, esta perspectiva acabava por alinhar-se com a perspectiva dos setores stalinistas. Com isso, o desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores acaba minando os elementos mais avançados da luta operária, segundo a análise de Dantas (2010):
(...) A imensa combatividade da época foi sendo paulatinamente canalizada para o beco sem saída da transição democrática burguesa pela cúpula. E ele próprio conformou-se como um partido cada vez mais de colaboração de classe, cada vez mais aburguesado e finalmente como baluarte do grande capital em sua ofensiva neoliberal. (p. 18).

6. CONCLUSÃO: A potencialidade do proletariado brasileiro em ascenso acabou não sendo canalizada para construção de verdadeiros organismos de democracia direta a partir das fábricas, bairros proletários, dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e dos demais locais de trabalho e estudo em mobilização. O partido constituiu-se como uma poderosa forma de negação dos elementos da estratégia operária e hegemonia proletária como programa, destacando-se que esta negativa foi construída por elementos conscientes das direções do movimento operário e petista durante todo período.
Com tal atuação política, o PT legitima uma Constituinte explicitamente tutelada pelos militares, expresso na figura de Sarney. Uma semana depois, o PT, com todos os seus autênticos, Articulação e Sindicato do ABC, darão prova de seus limites históricos por meio da passividade frente à repressão na CSN, que termina com um saldo de três mortos e cem feridos. Assim, a direção petista e cutista construiu o desarme politico e programático do proletariado em ascenso durante todo o período 1978-1989. O PT, ainda muito influente no proletariado, ao invés de levantar uma candidatura proletária, independente dos interesses da burguesia e do patronato, centra todos seus esforços e capital militante nas eleições de 1989, compondo uma frente eleitoral marcadamente de colaboração de classes. Nas eleições deste ano o partido articulou-se na coligação ?Frente Brasil Popular?, constituída em conjunto com PSB e PC do B, configurava-se como uma política de Frente Popular, uma vez que articulava partidos expressamente defensores da ordem. Mario Covas do PSDB e Leonel Brizola (que havia combatido publicamente a greve da CSN) também faziam parte de sua base de apoio. Buscando a vitoria eleitoral a qualquer preço, a ?Frente Brasil Popular? chegou a declarar que não tocaria na propriedade privada e no patrimônio dos grandes bancos, que pagaria a dívida pública de 300 milhões de dólares. (COGGIOLA, 2010). No entanto ainda assim não pôde vencer as eleições presidenciais. O Partido só alcançaria tal posto nas eleições de 2002, quando passa abertamente a dar continuidade ao programa neoliberal de FHC.

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