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De barriga cheia, Âncora da Rede Globo arrota Filosofias Indigestas aos Famintos
Por Quando entrar setembro... -
Wednesday, Aug. 31, 2016 at 1:15 PM
Um pai de família, desesperado pela ameaça de desemprego, matou sua esposa, jogou seus dois filhos do 18º andar de um edifício no Rio de Janeiro e se atirou também. Ao noticiar o fato, o Jornalista Chico Pinheiro, Âncora do telejornal matutino 'Bom Dia, Brasil', da Rede Globo, disse ao final da matéria: "É isso que dá quando a sociedade coloca o verbo ter antes do verbo ser".
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2016/08/vizinhos-homenageiam-familia-achada-morta-em-condominio-no-rio.html
Emma Goldman, Anarquista Russo-Americana, escreveu: "Alguém disse que se requer menos esforço mental para condenar do que para pensar". Pois bem, eu acho que o Jornalista Chico Pinheiro, por quem eu tenho uma grande admiração, deveria ter pensado um pouco antes de arrotar essa filosofia indigesta para quem está com o estômago vazio ou está sob ameaça de fome. Não que eu ache que o ter deva prevalecer sobre o ter, mas é que, na sociedade, principalmente na sociedade burguesa, quem não tem nada não é ninguém, por mais que seja uma grande alma, enquanto uma alma sebosa, que tem tudo e não é ninguém, tem alto prestígio social. Ou algum incauto acha que se aquela família perdesse tudo e fosse morar numa favela, e algum dos seus membros fosse suspeito da prática de um crime, a polícia só entraria no seu barraco durante o dia, com mandado judicial, respeitando os seus direitos? Ora, a polícia chegaria derrubando o barraco e botando o pânico, não importando quem eles teriam sido no passado.
Em regra, quem não tem poder aquisitivo, não é nem pode se tornar ninguém, já que não poderá ter uma educação de qualidade, nem alimentação de qualidade nem saúde de qualidade. Sem alimentação de qualidade, as pessoas ficam mais vulneráveis às doenças e, uma vez doentes, não podendo se tratar, vão morrer nas filas do SUS. Condenar os pobres, os desempregados e os ameaçados de desemprego, em razão de estes, supostamente, colocarem o verbo ter acima do verbo ser, é de uma insensibilidade e de uma incompreensão extremas.
Muito provavelmente, se o Chico Pinheiro tivesse certeza que não conseguiria qualquer emprego na área de jornalismo, por mais que gostasse dessa área e por mais preparado que pudesse ser, ele não teria cursado Comunicação. Em outras palavras, muito provavelmente, ele colocou o verbo ter acima do verbo ser ao escolher sua profissão. Uma prova de que quem não tem nada não tem prestígio social, é que um Motoboy saltou como seu filho no colo do alto do Edifício-sede da Justiça do Trabalho em São Paulo e tal fato não teve a mesma repercussão, nem social nem midiática, que teve a tragédia em São Paulo, e isso não por questões quantitativas, mas porque o Motoboy era muito mais pobre do que o suicida do Rio de Janeiro.
Ao contrário do Chico Pinheiro, penso que foi por priorizar o ser em detrimento do ter e por ser consciente da realidade capitalista que o pai de família do Rio de Janeiro cometeu a tragédia com sua família e consigo mesmo. Se ele colocasse o ter acima do ser, ele faria como os membros do Clã Midiático Marinho, que nem estão desempregados e nem estão ameaçados de desemprego, já que são empregadores, e portanto, desempregam e ameaçam trabalhadores de desemprego, que quando tem seus privilégios ameaçados recorrem ao fascismo, como fizeram nos anos de chumbo, e como a maioria dos desempregados ou dos que estão sob ameaça de desemprego, que, na falta de perspectiva, dão suporte aos fascistas.
Na música 'Paula e Bebeto', o Poeta, Cantor, Compositor e Instrumentista Milton Nascimento diz que "qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar". Acho que foi por amor, uma forma de amor pouco ortodoxa, diga-se de passagem, que o desesperado Pai de Família do Rio de Janeiro cometeu a tragédia, e não por colocar o verbo ter antes do verbo ser. Se o Capitalista colocasse o verbo ser antes do verbo ter, se não desse a entender que não queria mais aquele Pai de Família na empresa, a tragédia teria sido evitada. Ou não, Chico?